Uma onda de samba no MAR

Filipe Fernandes/Rio+Cultura

Patrimônio cultural imaterial do Brasil, o samba carioca é o tema de uma exposição do Museu de Arte do Rio (MAR). Com curadoria de Nei Lopes, Evandro Salles, Clarissa Diniz e Marcelo Campos, a mostra O Rio de Samba: Resistência e Reinvenção traz cerca de 800 itens, como obras de Portinari, Djanira e Di Cavalcanti, fotografias de Walter Firmo e Evandro Teixeira, gravuras de Debret e Lasar Segall, parangolés de Helio Oiticica, etc.

O quadro Três Orixás, de Djanira da Motta e Silva, mostra a
relação do samba com a cultura e as religiões de matriz
africana. (Filipe Fernandes/Rio+Cultura)
Dividida em três partes, a exposição começa na passarela que liga os dois prédios do MAR. Através do corredor, a peça sonora do músico Djalma Corrêa traz os sons dos instrumentos tradicionais do samba: bumbo, cuíca, chocalho e as batidas do coração, quem realmente controla o samba. "Antes mesmo de virmos ao mundo, pulsamos no compasso binário do principal órgão da vida", comenta Djalma.

Em seguida entramos na primeira sala da exposição, que mostra as origens africanas do samba, no século XIX, como um movimento de resistência cultural dos escravos que lutavam para não aceitar à cultura imposta pelos colonizadores europeus.

Na segunda sala vemos como o samba se popularizou no Rio de Janeiro e no Brasil, através de um processo de construção da identidade nacional na Era Vargas. O Carnaval, a construção do Sambódromo e da linha férrea que cruza a cidade, a entrada no ritmo na Rádio Nacional são alguns dos motivos que levaram o samba a se tornar um ritmo popular.

Traje de baiano utilizado por Carmen Miranda
no filme Banana da Terra, onde canta O Que É
Que a Baiana Tem?, de Dorival Caymmi.
(Filipe Fernandes/Rio+Cultura)
Ao mesmo tempo, percebemos que os elementos africanos vão sendo apagados do samba. Um exemplo apresentado na exposição é que enquanto a portuguesa Carmen Miranda era vista no exterior como um símbolo da cultura brasileira. Na verdade, ela era um produto criado pela indústria cultural que se apropriava de elementos da cultura africana, como as roupas utilizadas pelas "baianas", as mulheres negras que vendiam comidas pelas ruas da Bahia. Enquanto isso, os verdadeiros sambistas e compositores brasileiros eram desvalorizados e até mesmo marginalizados. Ainda assim, a exposição reconhece que o período foi de grande importância para que o samba passasse a ser visto com bons olhos pela sociedade.

Na última sala, no primeiro andar do prédio, está a instalação Carnaval! O Grito de Quê. Criada por Ernesto Neto e Leandro Vieira, carnavalesco da Mangueira, a obra traz uma cabeça gigante suspensa por uma rede de crochê. Com a boca aberta, não fica claro se a cabeça está gritando ou gargalhando. Uma excelente representação do samba, que ao mesmo tempo é uma manifestação de dor e alegria.

Obra interativa permite que os visitantes possam marcar o
ritmo do samba em oito bumbos de marcação. (Filipe
Fernandes/Rio+Cultura)
A sala promove ainda um espaço de interação, onde o visitante que pode tocar um dos oito surdos para marcar o ritmo de seu próprio samba. Em outro momento, na entrada do MAR, o visitante pode participar de um karaokê que traz uma seleção com os melhores sambas para quem quiser soltar a voz.

O Rio do Samba: Resistência e Reinvenção
Museu de Arte do Rio (MAR) - Praça Mauá, 5 - Centro (3031-2741)
De terça a domingo, das 10h às 17h.
Até 10 de março de 2019.
R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia). Às terças, a entrada é gratuita
Classificação: Livre

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