Em 2011, um pequeno episódio piloto produzido de forma independente foi postado no Youtube. Cinco anos depois, o episódio rendeu frutos e se tornou em uma das séries mais assistidas da Netflix. Essa é a história de 3%, o primeiro seriado brasileiro produzido pela empresa.
A segunda temporada começa quase um ano após a primeira, às vésperas de mais um Processo. Os quatro protagonistas da primeira temporada ainda estão tentando encontrar seu lugar; Joana (Vaneza Oliveira) e Fernando (Michel Gomes), no Continente, e Michele (Bianca Comparato) e Rafael (Rodolfo Valente), no Maralto. Porém, essa jornada de auto-conhecimento não pode demorar muito, porque quando eles descobrem os planos da Causa para impedir o Processo 105, eles serão obrigados a decidir se estão do lado do Maralto ou da Causa.
Nesse ano, somos apresentados a novos personagens: Silas (Samuel de Assis), membro da Causa, a jovem Glória (Cynthia Senek), amiga de infância de Fernando que está se preparando para o Processo, a líder da tropa do Maralto Marcela (Laila Garin), que está disposta a fazer de tudo para manter a ordem, André (Bruno Fagundes), irmão de Michele, e Elisa (Thais Lago), médica do Maralto que se envolve com Rafael.
Um dos méritos de 3% é contar com um excelente elenco que dá conta do recado. Porém quem realmente rouba a cena é Vaneza Oliveira. E o fato de Joana ser o primeiro trabalho de Vaneza só torna seu desempenho ainda mais impressionante. Ela consegue dar conta do recado com maestria. Se ela derrapou em algum momento na primeira temporada, agora está perfeita ao trazer ainda mais fúria para o olhar de Joana.
A direção de arte também é maravilhosa. Ao deixar de ficar confinada no Prédio do Processo, a série conseguiu transmitir melhor a desigualdade social entre o Maralto e o Continente. Além disso, essa expansão do universo resolveu as críticas da primeira temporada que reclamaram que a série estava bem mais "alegre e colorida" que a versão original, que utilizava uma paleta de cores mais cinza e burocrática. Acaba que o colorido da versão da Netflix se torna um contraste com a hipocrisia do Maralto.
Outro ponto positivo da série foi abordar um pouco da cultura local desse mundo, como a cena da festa que acontece na véspera do Processo. É maravilhoso observar como figurinos e maquiagem ajudam a construir essa mistura de Carnaval, Maracatu e Folia de Reis. Dessa forma, a série insere elementos da cultura brasileira de forma natural a um gênero tipicamente americano, que é a ficção científica.
Sem esquecer, é claro, a participação da voz de Liniker e da percursão do bloco Ilú Obá de Min, interpretando Preciso Me Encontrar, um clássico de Cartola. Se na primeira temporada, pouco se falou da canção Mulher do Fim do Mundo, de Elza Soares, agora a Netflix chegou a postar um videoclipe da cena no Youtube.
A série só derrapa no roteiro que é muito explicativo e redudante, quase como uma telenovela. Poderia ser mais sucinto. Ainda assim, ele consegue segurar a tensão ao longo dos dez episódios ao trazer algumas reviravoltas ao longo da temporada. Além disso, há uma boa construção dos personagens, que não são unidimensionais e nem caricaturas, como aconteceu em O Mecanismo, outra produção brasileira da Netflix. Dessa forma, a história consegue trazer o clima de seriedade que busca alcançar.
Fica claro que 3% se aperfeiçoou de um ano pra outro. Ter deixado de ser um experimento brasileiro e se tornado uma série assistida no mundo todo ajudou nisso. Ainda há alguns erros a serem reparados, mas a terceira temporada que deve estrear ano que vem provavelmente vai dar conta do recado.
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