Ryan Murphy se reinventa com série policial

por Filipe Fernandes


Você pode não saber quem é Ryan Murphy, mas com certeza você conhece alguma série dele. Ao lado de Brad Falchuk e Tim Minear, Murphy produziu grandes sucessos como Glee, American Horror Story e Nip/Tuck. Agora, os três trabalham em 9-1-1, série que acompanha a rotina de policiais e bombeiros da cidade de Los Angeles.

Uma jovem sufocada pela cobra de
estimação. Apenas um dia normal para
o  bombeiro Bobby Nash.
(Divulgação)
Com uma pegada diferente de seus trabalhos anteriores, Murphy pega mais leve no surrealismo, elemento presente em todas as suas séries. A ironia, o glamour meio decadente e as alucinações muito presentes em seus trabalhos anteriores, agora são deixadas de lado. É claro que o inusitado, elemento comum em séries policiais e médicas, continua presente, mas, ainda assim, é a série mais pé no chão do produtor.

Alguns elementos clássicos de Murphy ainda podem ser observados, como a profundidade dos personagens. Sempre evitando o maniqueísmo, o diretor gosta de explorar os erros humanos, os problemas do capitão do corpo de bombeiros Bobby Nash (Peter Krause) com o álcool ou o temperamento explosivo da policial Athena Grant (Angela Bassett) deixa isso bem claro.

A atuação de Angela Bassett é
o destaque da série.
(Divulgação)
A série também levanta menos a bandeira LGBT, outra marca de Ryan Murphy. O grupo é representado por dois personagens gays: a paramédica Henrieta Wilson (Aisha Hinds) e Michael Grant (Rockmund Dunbar), marido de Athena, que pede o divórcio após se assumir gay. Não há interesse em mostrar a homossexualidade como o "New Normal". Não que a ideia da inclusão seja rejeitada, mas a sexualidade dos personagens é abordada apenas como um detalhe da trama.

Por outro lado, a bandeira da inclusão é levantada por Athena, principalmente na cena em que ela ridiculariza um segurança de aeroporto que amarrou um passageiro na cadeira com silver tape. Fica claro que Athena Grant é tão boa policial quanto Angela Basett é boa atriz. Eis a fórmula para a criação da personagem com maior potencial da série.

A trama traz ainda uma pitada de romance entre a telefonista do 9-1-1 Abby Clark (Connie Britton) com o bombeiro Buck (Oliver Stark), que apesar de viverem na mesma cidade, mantém um namoro "à distância", em que o único contato é por meio do telefone. Isso porque Buck se autodiagnosticou como "compulsivo por sexo" (lembra Nip/Tuck, não?) e quer ir devagar no relacionamento. Mas é bom que ele se apresse, porque pode ser que um triângulo amoroso se forme nos próximos episódios.

Abby e Buck são o casal principal da
série. (Divulgação)
As muitas tramas paralelas não atrapalham o desenvolvimento da história por conta do formato tradicional de TV aberta, onde cada temporada apresenta uma grande quantidade de episódios, permitindo que todos os personagens possam se destacar.

Com 9-1-1, Murphy se reinventa ao produzir uma série mais voltada para a ação, e, apesar de ser iniciante, ele consegue mostrar que não é coincidência que se tornou sinônimo de sucesso. A série desenvolve muito bem as cenas de tensão ao mostrar resgates de pessoas presas no loop de uma montana-russa ou crianças dentro de um castelo inflável "voador".

A primeira temporada ainda está no início, com apenas seis episódios lançados; mas já foi renovada para uma segunda temporada. Aqui no Brasil, 9-1-1 estreia em abril, na Fox Life.

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