Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, diretores de Bacurau, recebem o Prêmio do Júri, no Festival de Cannes. (Reuters/Regis Duvignau) |
Terminou no último sábado (25) a edição de 2019 do tradicional Festival de Cannes, na França. Bem representado, o Brasil emplacou cinco filmes esse ano, dos quais dois concorreram à Palma de Ouro, principal prêmio do Festival, que foi dado ao sul-coreano Parasite, de Bong Joon-ho. Não é a primeira vez do Brasil no Festival, inclusive já conquistamos uma vez a Palma de Ouro, em 1962, com O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte.
Abaixo, contamos tudo sobre como o Brasil marcou o Festival, esse ano.
Bacurau
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Bacurau foi o filme brasileiro que mais repercutiu em Cannes. O longa se passa na tranquila cidade fictícia de Bacurau, no Sertão Nordestino, que, após a morte da matriarca da cidade, é invadida por estrangeiros comandados por um alemão vivido por Udo Kier e apoiados por dois sudestinos entreguistas.
Rodado no Sertão do Seridó, região localizada na divisa da Paraíba com o Rio Grande do Sul, o filme se passa em um futuro distópico em que o Brasil é tomado por uma onda de violência, que gera uma grande rivalidade entre o norte e o sul do país.
Vestido de Silvero Pereira chamou a atenção no tapete vermelho. (Divulgação/Instagram) |
Em entrevistas a jornalistas, os diretores manifestaram apoio aos protestos contra os cortes na educação que ocorreram no dia 15, mesmo dia em que o filme foi exibido. "É importante numa democracia expressar a infelicidade. Não podemos perder de vista o que educação significa: resistência dentro de um sistema estranho no qual não se acredita", Kleber Mendonça declarou no dia seguinte aos protestos.
"Tanto nós aqui em Cannes quanto eles lá no Brasil estamos fazendo a nossa parte para que não destruam o que foi conquistado", complementou Juliano Dornelles, que dedicou o prêmio a "todos os trabalhadores do Brasil, da ciência, da educação e da cultura".
Com roteiro e direção de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles e coproduzido entre Brasil e França, o filme foi bastante aplaudido pelo público, recebendo muitos elogios da crítica internacional e levando o Prêmio do Júri, troféu que dividiu com o francês Les Misérables, de Ladjy Ly.
O Traidor
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Nos anos 1980, uma guerra entre os chefões da máfia explode na Itália, levando o mafioso Tommaso Buscetta (Pierfrancesco Favino) a fugir para o Brasil com sua esposa, a carioca Maria Cristina de Almeida Guimarães (Maria Fernanda Cândido). Preso pela polícia brasileira e extraditado para o seu país, Buscetta decide trair o voto de fidelidade que fez à Cosa Nostra.
Co-produção de Itália, França, Alemanha e Brasil (através da Gullane Entretenimeto, de Que Horas Ela Volta?), o filme foi dirigido pelo italiano Marco Bellocchio, que co-escreveu o filme com Francesco Piccolo, Ludovica Rampoldi, Valia Santella e Francesco La Licata.
Outros filmes que participam de mostras competitivas paralelas
Fora da competição principal, o Festival trouxe outras três produções brasileiras.
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Em discurso antes da exibição, Aïnouz alertou sobre o feminicídio no Brasil, dedicando o filme às mulheres. Ele aproveitou o discurso, para também prestar seu apoio à Marcha dos Estudantes. Em entrevista ao Jornal do Brasil o diretor comentou que quis contar as histórias de sua mãe e de outras mulheres que viveram naquela época, se inspirando nas telenovelas de Janete Clair. "Eu queria falar com esses milhões de pessoas que votaram nesse governo. E o melodrama é a forma de chegar às pessoas de forma mais eficaz", explica o diretor.
O documentário Indianara, de Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa, foi exibido na mostra Acid, voltada para o cinema independente, e teve grande êxito. A produção retrata a vida de Indianara Siqueira, ativista pelos direitos de transexuais, mulheres prostituas, candidata à vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL, em 2016, e fundadora da Casa Nem, abrigo para transexuais.
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O filme lotou as três exibições que fez em Cannes e concorreu ao Palma Queer, prêmio voltado para produções com temáticas LGBT e dado para o francês Portrait of a Lady on Fire, de Céline Sciamma.
Sem seu Sangue, de Alice Furtado, participou da Quinzena dos Realizadores. O filme é uma coprodução entre Brasil, Holanda e França e conta a história de Silvia (Luiza Kosovski) e Artur (Juan Paiva), dois adolescentes que se apaixonam pela primeira vez. Porém, tudo muda quando o menino morre, o que deixa Silvia completamente arrasada.
Um anúncio para o ano que vem
Uma cinebiografia sobre o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna foi anunciada durante o Festival. O brasileiro, que se consagrou campeão mundial por três vezes: em 1988, 1990 e 1991, completaria 60 anos em 2020.
O diretor e roteirista Luiz Bolognesi ficará no comando do projeto. Luiz é conhecido por outras produções como o documentário Ex-Pajé e a animação Uma História de Amor e Fúria. A produção ficará por conta de Caio e Fabiano Gullane, os mesmos produtores de O Traidor, e contará com a parceria do Instituto Ayrton Senna.
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