A coesão musical de Olivia Hime

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Uma coisa incomodava muito Olivia Hime. As faixas soltas de álbuns cujos temas e estilos não se conectavam e acabavam destoando umas das outras. Por isso, a cantora sempre teve a preocupação de organizar as canções de seus discos, de modo que elas dialogassem com as faixas anteriores e posteriores, formando suítes que conferissem unidade estética e resinificassem os temas.

A primeira experiência veio com Mar de Algodão - As Marinhas de Caymmi, em 2002. Depois, retornou a proposta em Almamúsica (2011), com composições de diversos autores e uma suíte instrumental de temas ambientados no Rio.

Agora, Olívia Hime retorna mais uma vez à proposta em Espelho de Maria, com a diferença que, nesse álbum, Olívia se preocupa - mais do que nunca - com o conceito do álbum. "Há dois anos venho construindo a forma do Espelho de Maria, dando preferência às canções. Pra mim, é na canção que a melodia , a harmonia e a poesia convivem com mais clareza e que penso poder dar a minha contribuição", explica a musicista.

Embora o disco tenha fabulosos arranjos de Francis Hime, Dori Caymmi, Paulo Aragão e Jaime Alem, é de Olivia o conceito central do álbum e a concepção orgânica das três suítes que o compõem, o que apenas reforça a capacidade criativa da artista.

Capacidade essa que é capaz de gerar um grande tesouro musical: um álbum surpreendentemente coeso cujas faixas dialogam perfeitamente entre si. Como um livro ou um espetáculo teatral, Espelho de Maria consegue transmitir claramente sua mensagem e o faz com a maravilhosa qualidade musical de Olivia.


Cada suíte do álbum é um tributo a um grande compositor brasileiro. A primeira suíte Canções Sem Fim é dedicada às canções de Dori Caymmi e seus parceiros como Paulo Cesar Pinheiro e Nelson Motta. Há ainda uma citação de Na Ribeira Deste Rio, poema de Fernando Pessoa.

Em seguida é a vez de São Bonitas as Canções, dedicada a Edu Lobo e parceiros como Chico Buarque, Ruy Guerra, Vinicius de Moraes, além do poema Memórias de Marta Saré, do teatrólogo Gianfrancesco Guarnieri.

Fechando o disco, a suíte Canções Apaixonadas, traz músicas do marido de Olivia, Francis Hime, em parceria com Chico Buarque, Geraldo Carneiro e a própria Olivia Hime.

E, para encerrar o álbum, Olivia retoma junto a faixa de abertura Canção Sem Fim, onde se junta a Dori Caymmi, a fim de reforçar o que o álbum deixa claro:

A canção jamais se acaba como nunca se acabou
Basta ver mulher e homem, bem e mal, paixão e dor.
Pois enquanto nascer gente vai haver canção de amor.

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