com Agência Brasil
A tão polêmica exposição Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira chegou no último fim de semana ao Rio, onde ficará na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV) até o dia 16 de setembro. Reunindo 214 obras de 82 artistas brasileiros, como Cândido Portinari, Alfredo Volpi, Lygia Clark, Alair Gomes, Leonilson, entre outros, a exposição traça um panorama histórico da arte brasileira entre o séculos XIX até a atualidade, reunindo obras que fugiram dos padrões estéticos, culturais e artísticos de suas respectivas épocas.
De acordo com Gaudêncio Fidelis, curador da Queermuseu, o objetivo da exposição é mostrar todos os tipos de diferenças entre as pessoas - não apenas aquelas referentes a questões de gênero e de sexualidade -, abordando todo tipo de comportamentos pensado e construído fora das convenções sociais.
Segundo Gaudêncio Fidelis, a montagem no Rio precisou abrir mão de outras 50 obras que estiveram na montagem original, em Porto Alegre. Isso por conta da necessidade de se adaptar ao novo local. Ainda assim, a redução não cortou nenhum artista e nem modificou a integridade conceitual da mostra.
De acordo com Fabio Szwarcwald, diretor da EAV, o Parque Lage sempre foi um espaço de resistência, criado durante a ditadura militar, e teve amplo apoio e financiamento da sociedade para receber a Queermuseu. “A Secretaria de Cultura nos deu carta branca para iniciar essa campanha, muito desafiadora, contra a censura, no momento em que a gente vivia um obscurantismo muito grande nas artes. Lançamos o crowdfunding no dia 31 de janeiro desse ano e o resultado foi impressionante", afirmou o diretor.
No total, foram arrecadados mais de R$ 1 milhão em 58 dias, com 1.659 colaboradores na vaquinha virtual, o que possibilitou a reforma da Cavalariça do Parque Lage para receber a exposição. Para ajudar na arrecadação, o Parque Lage promoveu uma série de eventos, como o Levante Queremos Queer e um show com o cantor e compositor Caetano Veloso.
Totalmente gratuita, a mostra traz ainda uma programação paralela que promove uma série de debates organizados por Ulisses Carrilho, curador do Parque Lage, além de atrações musicais selecionadas por Julio Barroso entre artistas que militam no movimento LGBT. A programação se encontra no final da matéria.
O que é Queer?
O termo queer vem do inglês e significa, em tradução literal, estranho, diferente, algo que foge do padrão que a sociedade considera como aceitável. A partir dos anos 1920, nos Estados Unidos, a palavra passou a ser usada de forma pejorativa para designar as pessoas homossexuais.
Com o passar do tempo, o termo passou a ser utilizado pela própria comunidade LGBT, como uma forma de resistência. A partir dos anos 1980, surgiram estudos acadêmicos chamados de Teoria Queer, tendo como marco a publicação do livro Problemas de Gênero, da filósofa Judith Butler.
Polêmicas e censuras
Em setembro do ano passado, a mostra foi suspensa pelos organizadores, em Porto Alegre, onde era exibida no Centro Cultural Santander, após uma campanha em redes sociais organizada pelo Movimento Brasil Livre (MBL) contra o conteúdo da exposição. Tirando as obras do contexto, o grupo acusou a exposição de apologia à pedofilia e à zoofilia e ao desrespeito a figuras religiosas.
Posteriormente, o Ministério Público Federal (MPF) reconheceu que a exposição não cometeu nenhum tipo de crime e recomendou a reabertura da exposição, mas ela permaneceu fechada durante um mês, período que faltava para terminar a temporada, com fitas para isolar a área dentro do espaço cultural.
Após o fim antecipado, os produtores chegaram a negociar com o Museu de Arte do Rio (MAR), que é ligado à prefeitura, mas acabou vetada pelo prefeito Marcelo Crivella. Então, o Parque Lage, espaço do governo do estado, abriu as portas para a mostra.
Gaudêncio considera que a reabertura da exposição para a sociedade brasileira é uma vitória da democracia, porque permite a liberdade de expressão e de pensamento. Ele destaca que todo o debate que se seguiu após o fechamento em Porto Alegre é um dos legados da exposição, além do combate ao fundamentalismo no país. “Ela abriu o debate de uma maneira extremamente ampla, onde setores muito remotos da sociedade passam a debater gênero e sexualidade em consonância com a arte. Setores inclusive que não tinham pensado, debatido ou dialogado sobre arte até então. O debate continua, 11 meses depois do fechamento da exposição. Tem matéria, debate, discussão, teses de mestrado e doutorado, isso é muito importante”.
Protestos marcam reabertura da Queermuseu
No sábado (18), dia da abertura da exposição, a mostra passou por um novo ataque de grupos políticos conservadores. Enquanto os responsáveis pela mostra discursavam contra a censura e o fundamentalismo político e religioso, um grupo de conservadores protestava do lado de fora do Parque. Ativistas ligados à causa LGBT chegaram a discutir com os manifestantes, mas não houve violência física. A organização do evento contratou 20 seguranças para garantir a ordem durante a abertura. Uma viatura da PM foi chamada, mas não houve necessidade de intervir.
Marlon Aymes, coordenador político do grupo Templários da Pátria, uma entidade criada para “dar segurança” a grupos conservadores e liberais durante protestos, assim como faziam os Cavaleiros Templários durante as Cruzadas, sustentou que não se tratava de um protesto contra pessoas LGBT. “Nós estamos aqui contra algumas obras que estão sendo expostas, incentivando as práticas de pedofilia, zoofilia e o vilipendio religioso. Nós defendemos os valores da cultura ocidental, que são Deus, pátria e família”, explicou Marlon.
Para o Fabio Szwarcwald, os ativistas estão buscando espaço para aparecerem na mídia: “Já foi dito várias vezes que [a exposição] não possui vilipendio religioso, pedofilia ou zoofilia. Só que eles querem palco para aparecer”, comentou o diretor da EAV.
Classificação indicativa
A Justiça do Rio de Janeiro determinou ontem (21) que menores de 14 anos podem visitar a exposição, desde que acompanhados de pais ou responsáveis.
No dia da abertura, o juiz de plantão, Pedro Henrique Alves, da 1º Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, concedeu uma liminar proibindo a entrada de menores de 14 anos, mesmo que acompanhados por seus responsáveis. No mesmo dia, os advogados da EAV entraram com um agravo de instrumento para derrubar a decisão.
Porém, na decisão de ontem (21), o desembargador Fernando Foch, da Terceira Câmara Cível, questionou a validade jurídica da proibição, visto que o país garante a liberdade de manifestação artística “independente de censura ou licença”, e permite apenas a censura branda a posteriori, com o objetivo de “tutela dos direitos da criança e do adolescente”, por meio da classificação etária indicativa para espetáculos e diversão pela administração pública federal e pelo Estado.
O desembargador destaca que tal decisão não cabe ao judiciário. “Muito menos é possível se proibir a entrada de menores na faixa etária não recomendada em lugares de diversão pública ou espetáculos ou se condicioná-la à presença de pais ou responsáveis, certo que os titulares do poder familiar é que podem proibir, limitar, condicionar ou liberar o acesso daqueles sobre quem o exercem. São eles os juízes dessa conveniência, sujeitos às sanções do mau uso da potestade”, diz o texto da decisão.
Foch ressalta também que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não trata de disciplinar entrada ou permanência de menores de idade em exposições artísticas.
A EAV Parque Lage informa que vai seguir a recomendação do MPRJ, com afixação de um aviso na entrada da exposição com a seguinte mensagem: “Esta exposição contém obras de arte com representações de nudez, sexo e simbologia religiosa. Recomendamos levar isso em consideração antes de entrar na sala da exposição. O conteúdo desta exposição não é recomendado para menores de 14 anos desacompanhados dos seus pais ou responsáveis”.
O MPRJ fundamenta sua argumentação no ECA e também em uma portaria do Ministério da Justiça. Em um dos artigos, a portaria ressalta que “o processo de classificação indicativa integra o sistema de garantias dos direitos da criança e do adolescente, cujo objetivo é promover, defender e garantir o acesso a espetáculos e diversões públicas adequados à condição peculiar de seu desenvolvimento”. Em outro artigo, a pasta destaca o fato de “a classificação indicativa ter natureza pedagógica e informativa capaz de garantir à pessoa e à família conhecimento prévio para escolher diversões e espetáculos públicos adequados à formação de seus filhos, tutelados ou curatelados”.
23 de agosto
19h - Fórum Crenças e Manifestações Religiosas (Frei Tatá, Pastor Henrique Vieira, Professor Babalawô Ivanir dos Santos, Rabino Nilton Bonder)
26 de agosto
14h - Fórum Direitos e Desejos (Doutor Daniel Sarmento, Doutora Giowana Cambrone, Doutor Renan Quinalha)
18h - Taís Feijão
19h - Riko Viana
20h - DJ Lili Prohmann (Disritmia)
30 de agosto
19h - Fórum Estudos Queer, Estudos CUIR (Amara Moira, Helder Thiago Maia, Jaqueline Gomes de Jesus, Simone Rodrigues)
1 de setembro
14h - Fórum Usos dos Corpos, Usos das Imagens (Guilherme Altmayer, Indianara Siqueira, Jaqueline Maldonado, Jéssica Ipólito)
18h - Gabi Buarque
19h - Ty Maia
20h - DJ Rafa Canholato (Funk The Chic!)
4 de setembro
19h - Fórum Narrativas Queer (Clarissa Ribeiro, João Silvério Trevisan)
6 de setembro
19h - Fórum Pedagogia e Aprendizagem (Ana Thomaz, David Miranda, Giovana Xavier)
8 de setembro
14h - Fórum Existências e Resistências (Doutora Déborah Duprat, GABE Passareli, Jean Wyllys)
18h - Isoporzinho das Sapatão: Sarau + DJ
11 de setembro
19h - Fórum Fake News - A Liberdade de Expressão Hoje (Paulo Cesar Gomes)
14 de setembro
19h - Fórum Arte e Ativismo/Poéticas e Lutas (Tertuliana Lustosa, Bianca Kalutor)
16 de setembro
14h - Fórum Institucionalidade e Representatividade (Ulisses Carrilho)
17h - Virótica
18h - Ballet Underground
19h - Doralyce
20h - DJ Tata Ogan (Vitrolinha)
Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira
Parque Lage - Rua Jardim Botânico, 414, Jardim Botânico (3257-1800)
Até 16 de setembro.
De segunda a sexta, das 12h às 20h. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h.
Entrada franca
Classificação: Menores de 14 anos podem entrar, desde que acompanhados de pais ou responsáveis
Tomaz Silva/Agência Brasil |
A tão polêmica exposição Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira chegou no último fim de semana ao Rio, onde ficará na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV) até o dia 16 de setembro. Reunindo 214 obras de 82 artistas brasileiros, como Cândido Portinari, Alfredo Volpi, Lygia Clark, Alair Gomes, Leonilson, entre outros, a exposição traça um panorama histórico da arte brasileira entre o séculos XIX até a atualidade, reunindo obras que fugiram dos padrões estéticos, culturais e artísticos de suas respectivas épocas.
Tomaz Silva/Agência Brasil |
Segundo Gaudêncio Fidelis, a montagem no Rio precisou abrir mão de outras 50 obras que estiveram na montagem original, em Porto Alegre. Isso por conta da necessidade de se adaptar ao novo local. Ainda assim, a redução não cortou nenhum artista e nem modificou a integridade conceitual da mostra.
De acordo com Fabio Szwarcwald, diretor da EAV, o Parque Lage sempre foi um espaço de resistência, criado durante a ditadura militar, e teve amplo apoio e financiamento da sociedade para receber a Queermuseu. “A Secretaria de Cultura nos deu carta branca para iniciar essa campanha, muito desafiadora, contra a censura, no momento em que a gente vivia um obscurantismo muito grande nas artes. Lançamos o crowdfunding no dia 31 de janeiro desse ano e o resultado foi impressionante", afirmou o diretor.
Tomaz Silva/Agência Brasil |
Totalmente gratuita, a mostra traz ainda uma programação paralela que promove uma série de debates organizados por Ulisses Carrilho, curador do Parque Lage, além de atrações musicais selecionadas por Julio Barroso entre artistas que militam no movimento LGBT. A programação se encontra no final da matéria.
O que é Queer?
Tomaz Silva/Agência Brasil |
Com o passar do tempo, o termo passou a ser utilizado pela própria comunidade LGBT, como uma forma de resistência. A partir dos anos 1980, surgiram estudos acadêmicos chamados de Teoria Queer, tendo como marco a publicação do livro Problemas de Gênero, da filósofa Judith Butler.
Polêmicas e censuras
Tomaz Silva/Agência Brasil |
Posteriormente, o Ministério Público Federal (MPF) reconheceu que a exposição não cometeu nenhum tipo de crime e recomendou a reabertura da exposição, mas ela permaneceu fechada durante um mês, período que faltava para terminar a temporada, com fitas para isolar a área dentro do espaço cultural.
Após o fim antecipado, os produtores chegaram a negociar com o Museu de Arte do Rio (MAR), que é ligado à prefeitura, mas acabou vetada pelo prefeito Marcelo Crivella. Então, o Parque Lage, espaço do governo do estado, abriu as portas para a mostra.
Tomaz Silva/Agência Brasil |
Protestos marcam reabertura da Queermuseu
Grupo de manifestantes fizeram protesto contra abertura da Queermuseu. (Tomaz Silva/Agência Brasil) |
Marlon Aymes, coordenador político do grupo Templários da Pátria, uma entidade criada para “dar segurança” a grupos conservadores e liberais durante protestos, assim como faziam os Cavaleiros Templários durante as Cruzadas, sustentou que não se tratava de um protesto contra pessoas LGBT. “Nós estamos aqui contra algumas obras que estão sendo expostas, incentivando as práticas de pedofilia, zoofilia e o vilipendio religioso. Nós defendemos os valores da cultura ocidental, que são Deus, pátria e família”, explicou Marlon.
Para o Fabio Szwarcwald, os ativistas estão buscando espaço para aparecerem na mídia: “Já foi dito várias vezes que [a exposição] não possui vilipendio religioso, pedofilia ou zoofilia. Só que eles querem palco para aparecer”, comentou o diretor da EAV.
Classificação indicativa
Tomaz Silva/Agência Brasil |
No dia da abertura, o juiz de plantão, Pedro Henrique Alves, da 1º Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, concedeu uma liminar proibindo a entrada de menores de 14 anos, mesmo que acompanhados por seus responsáveis. No mesmo dia, os advogados da EAV entraram com um agravo de instrumento para derrubar a decisão.
Porém, na decisão de ontem (21), o desembargador Fernando Foch, da Terceira Câmara Cível, questionou a validade jurídica da proibição, visto que o país garante a liberdade de manifestação artística “independente de censura ou licença”, e permite apenas a censura branda a posteriori, com o objetivo de “tutela dos direitos da criança e do adolescente”, por meio da classificação etária indicativa para espetáculos e diversão pela administração pública federal e pelo Estado.
Tomaz Silva/Agência Brasil |
Foch ressalta também que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não trata de disciplinar entrada ou permanência de menores de idade em exposições artísticas.
A EAV Parque Lage informa que vai seguir a recomendação do MPRJ, com afixação de um aviso na entrada da exposição com a seguinte mensagem: “Esta exposição contém obras de arte com representações de nudez, sexo e simbologia religiosa. Recomendamos levar isso em consideração antes de entrar na sala da exposição. O conteúdo desta exposição não é recomendado para menores de 14 anos desacompanhados dos seus pais ou responsáveis”.
Tomaz Silva/Agência Brasil |
23 de agosto
19h - Fórum Crenças e Manifestações Religiosas (Frei Tatá, Pastor Henrique Vieira, Professor Babalawô Ivanir dos Santos, Rabino Nilton Bonder)
26 de agosto
14h - Fórum Direitos e Desejos (Doutor Daniel Sarmento, Doutora Giowana Cambrone, Doutor Renan Quinalha)
18h - Taís Feijão
19h - Riko Viana
20h - DJ Lili Prohmann (Disritmia)
30 de agosto
19h - Fórum Estudos Queer, Estudos CUIR (Amara Moira, Helder Thiago Maia, Jaqueline Gomes de Jesus, Simone Rodrigues)
1 de setembro
14h - Fórum Usos dos Corpos, Usos das Imagens (Guilherme Altmayer, Indianara Siqueira, Jaqueline Maldonado, Jéssica Ipólito)
18h - Gabi Buarque
19h - Ty Maia
20h - DJ Rafa Canholato (Funk The Chic!)
4 de setembro
19h - Fórum Narrativas Queer (Clarissa Ribeiro, João Silvério Trevisan)
6 de setembro
19h - Fórum Pedagogia e Aprendizagem (Ana Thomaz, David Miranda, Giovana Xavier)
8 de setembro
14h - Fórum Existências e Resistências (Doutora Déborah Duprat, GABE Passareli, Jean Wyllys)
18h - Isoporzinho das Sapatão: Sarau + DJ
11 de setembro
14 de setembro
19h - Fórum Arte e Ativismo/Poéticas e Lutas (Tertuliana Lustosa, Bianca Kalutor)
16 de setembro
14h - Fórum Institucionalidade e Representatividade (Ulisses Carrilho)
17h - Virótica
18h - Ballet Underground
19h - Doralyce
20h - DJ Tata Ogan (Vitrolinha)
Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira
Parque Lage - Rua Jardim Botânico, 414, Jardim Botânico (3257-1800)
Até 16 de setembro.
De segunda a sexta, das 12h às 20h. Sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h.
Entrada franca
Classificação: Menores de 14 anos podem entrar, desde que acompanhados de pais ou responsáveis
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