O melhor do cinema russo na TV Brasil

Tigre Branco, de Karen Shakhnazarov (Divulgação)

No início do ano, me meti em uma jornada cinematográfica maravilhosa ao me comprometer a assistir todos os filmes que a TV Brasil exibe todos os dias de segunda a quinta. Cada dia é reservado para uma sessão diferente. Segunda é o dia do Cine Mundial; terça, do Cine Nacional; quarta, o Cine Mazzaropi traz as produções do humorista; e quinta era o dia do Cine Ibermedia, que trazia filmes da América Latina, Portugal e Espanha, mas foi substituída pelo Cine Etnodoc, que traz filmes documentários brasileiros de curta metragem.

Vá e Veja, de Elem Klimov (Divulgação)
Uma das sessões que eu acho mais interessantes é o Cine Mundial é a sessão que exibe filmes do mundo todo. Pelo menos, na teoria. Na prática, a emissora exibiu apenas filmes russos ou soviéticos. No início, pensei que seria uma programação especial por conta da Copa, mas ela foi embora e a Rússia continua monopolizando a segunda.

Nada contra o cinema russo, pelo contrário, achei bem interessante o panorama que a sessão faz ao trazer 16 filmes que vão da década de 1920 até a de 2010. O problema é: se a sessão se apresenta como Mundial, seria bom que realmente trouxesse produções do mundo todo. Se fosse pra se deter em um local só, era melhor ter deixado o Cine Ibermedia, que pelo tinha uma maior variedade de países.

Braço de Diamante, de Leonid Gaidai (Divulgação)
De qualquer modo, quero falar de alguns filmes russos que chamaram a minha atenção. Em outro dia, posso falar das outras sessões, mas hoje vamos ficar só com a Cine Rússia Mundial mesmo.

Vou começar logo com o qual acredito que seja o melhor da sessão: Tigre Branco (2012), de Karen Shakhnazarov. O filme se passa durante a II Guerra Mundial e acompanha a história do tanquista Ivan Naydenov (Aleksey Vetkov), que sobrevive milagrosamente a um bombardeio alemão. A partir daí, Ivan passa a perseguir o um misterioso tanque alemão que parece ter vida própria. A perseguição ao tanque durante o filme é quase como uma caçada à Moby Dick.

Destaque para a cena final, onde após a rendição alemã que levou ao fim da Guerra, Ivan defende que o tanque do Hitler ainda não foi derrotado e ainda se encontra por aí, podendo voltar em qualquer momento. Em seguida, o próprio Hitler (Karl Krantskovki) aparece se justificando dizendo que não fez nada de errado porque a guerra é da natureza humana e nunca teve um início e nem terá um fim.

Cidade dos Ventos, de Karen Shakhnazarov (Divulgação)
Outros filmes sobre a II Guerra foram exibidos, como o brutal Vá e Veja (1985), de Elem Klimov, e o debochado documentário O Fascismo de Todos os Dias (1965), de Mikhail Romm. O primeiro mostra a história da invasão alemã à Bielorrússia, em 1941, enquanto o segundo faz um panorama da ascensão e da queda do regime nazista que procurava separar quem tinha "a cabeça certa", como Hitler, de quem tinha "a cabeça errada", como Liev Tolstói, por exemplo.

Há também os filmes mais ideológicos produzidos durante a II Guerra, como Tratoristas (1939), de Ivan Pyriev, e O Retorno de Vassily Bortnikov (1953), de Vsevolod Illarionovich Pudovkin. Bastante panfletários, acabaram sendo chatos pra quem já superou a ultrapassada e maniqueísta divisão Capitalismo X Socialismo; pelo menos, com esses filmes podemos entender como funcionaria a utopia socialista.

Doze Cadeiras, de Leonid Gaidai (Divulgação)
Por outro lado, há outros filmes que conseguem fugir da mera panfletagem nacionalista e trazem críticas ao próprio regime socialista, como o drama Cidade do Ventos (2008), de Karen Shakhnazarov, e as comédias Braço de Diamante (1968) e Doze Cadeiras (1971), ambos de Leonid Gaidai.

Outros filmes exibidos na sessão: As Aventuras Extraordinárias de Mister West no País dos Bolcheviques (1924), de Lev Kulechov; Circus (1936), de Grigori Aleksandrov; Alexander Nevsky (1938), de Sergei Eisenstein e Dmitri Vasilyev; Às Seis da Tarde Depois da Guerra (1944), de Ivan Pyriev; Primavera (1947), de Grigori Aleksandrov; Noite de Inverno em Gagra (1985), Sonhos (1993) e A Filha Americana (1995), os três de Karen Shakhnzarov.

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