O Méier é dos poetas

por Filipe Fernandes


Divulgação/Facebook

Quem frequenta o Imperator, tradicional centro cultural do Méier já sabe: terça é dia de poesia! Pensando em incentivar a leitura e a produção de poemas, os poetas Heyk Pimenta e Marcelo Reis de Mello criaram a Oficina Experimental de Poesia. Desde 2011, a oficina oferece, de forma gratuita, um espaço aberto a todos os apaixonados por poesia.

Os encontros não seguem um roteiro fechado. O responsável pela reunião chega com uma proposta, mas todos podem sugerir como aquele encontro irá seguir, de forma que uma noite é totalmente diferente da outra. Na última terça-feira (10), por exemplo, o grupo se dividiu entre analisar as letras de pagodes dos anos 90 ou discutir sobre alguns poemas de Eucanaã Ferraz e Ana Martins Marques que interagiam com textos acadêmicos e discursos políticos, proposta que acabou sendo aceita pelo grupo.

Depois da reunião, aproveitei para trocar uma palavrinha com dois participantes da Oficina: a professora de francês Eduarda Moura e o doutorando em Filosofia Rafael Zacca. Os dois comentaram sobre o processo da criação de poesia, os hábitos de leitura dos adolescentes e deram dicas pra quem está começando a ler poesia.

Rio+Cultura: Vocês acreditam que a poesia seja algo atraente?
Rafael Zacca: Eu não acho que seja tão atraente. O que eu acho é que algumas pessoas que se sentem um pouco mais deslocadas se identificam com essa coisa esquisita.
Eduarda Moura: Eu não vejo poesia como algo atraente. Inclusive, pelo que eu vejo aqui nos nossos encontros, os mais cheios não são os que falam necessariamente de poesia.

Uma boa poesia precisa seguir um modelo certinho de métricas e rimas ou ela permite uma liberdade?
Rafael: Acho que poesia só acontece quando há essa liberdade.
Eduarda: Eu acredito que é difícil definir o que é um poema ou uma poesia. Existem várias poesias que fogem desse esquema.

As pessoas costumam dizer que os jovens não leem mais. Vocês acreditam nisso?
Eduarda: Não. Na verdade, acho que eles leem mais do que quando a gente era jovem.
Rafael: Eu sempre vejo o jovem lendo, principalmente romance internacional. Além da leitura de Internet.
Rafael: Acho que a dificuldade é que, hoje em dia, existem linguagens muito próximas do jovem, como a música e o cinema.
Eduarda: Mas, nos últimos anos, teve um crescimento de séries literárias que viraram filmes, então os adolescentes passaram a ler por causa dos filmes.

Algumas dicas pra quem quer começar a ler poesia
Rafael: Vá às livrarias e converse com os livreiros. Crie uma relação com o livreiro. Vários deles são escritores. Pergunte o que eles recomendam e porquê. A Travessa de Botafogo, por exemplo, tem um poeta, o Leonardo Marona, que é leitor de quem tá escrevendo hoje em dia.
Eduarda: Faça o caminho inverso do que a gente aprende na escola, que é um percurso cronológico, que pretende nos "dar direito" de aprender a ler a poesia contemporânea. O que eu sugiro é: comece pelos contemporâneos e volta pra trás, se for o caso.
Rafael: Você não precisa dos clássicos. Eles são maravilhosos, mas você não precisa deles.

E quem tá fazendo poesia agora?
Eduarda: A Angélica Freitas é uma poeta que eu admiro muito. Ela é de Pelotas, Rio Grande do Sul. Tem também o Lucas Matos, poeta aqui do Rio.
Rafael: A Revista Escamandro sempre publica autores que estão escrevendo agora.

Oficina Experimental de Poesia
Imperator - Centro Cultural João Nogueira - Rua Dias da Cruz, 170, Méier (2597-3897)
Toda terça, à 19h.
Entrada Franca
Classificação: livre

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