Os cinco melhores livros de Hercule Poirot

por Filipe Fernandes


Durante 24 anos, David Suchet interpretou o detetive em Agatha Christie's Poirot. (Divulgação/ITV)

Agatha Christie é considerada a maior escritora do mundo, vendendo mais livros que Shakespeare ou Cervantes. Conhecida como A Dama do Crime, a britânica escreveu nada menos que 85 livros, dos quais a grande maioria são histórias de detetives com as tramas mais complexas que se possa imaginar. Seus livros fazem o caso Odete Roitman parecer história pra boi dormir.

Um dos personagens mais conhecidos de Agatha é o detetive belga (e não francês) Hercule Poirot. Apesar de ser considerado uma criaturinha patética pela própria Agatha, que o detestava, Poirot possuía uma grande inteligência e um exótico bigode.

Recentemente, o detetive foi violentado por uma adaptação pavorosa para o cinema. Para reparar esse grande erro (pra não dizer blasfêmia), separei os cinco melhores livros do detetive para quem quiser conhecer o verdadeiro detetive.

Poirot Investiga (1924)

Em A Caixa de Chocolate, Poirot aparece como um policial
da Bélgica. (Divulgação/ITV)
Pra começar uma coletânea de contos que mostram a versatilidade do detetive que resolve qualquer tipo de caso. Roubos, assassinatos, sequestros. Nada é páreo para as celulazinhas cinzentas de Poirot. Nem mesmo um resfriado consegue abatê-lo, fazendo com que ele solucione um caso sem precisar sair da cama.

A versão original do livro reúne onze contos narrados pelo tapado Capitão Hastings, fiel amigo do detetive. Mas a edição brasileira traz mais três histórias, incluindo A Caixa de Chocolate, o único fracasso de Poirot, quando ele ainda trabalhava para a Polícia da Bélgica.

Assassinato no Expresso do Oriente (1934)

Poirot precisa lidar com alguns dilemas morais em
Assassinato no Expresso do oriente. (Divulgação/ITV)
Esse é um dos livros mais conhecidos e adaptados de Agatha. A história se passa no famoso trem que cruza a Europa, indo de Istambul até Paris.

Quando Poirot resolve pegar o Expresso de luxo ao voltar de uma viagem pela Europa, o trem se vê impedido de continuar a viagem por conta de uma tempestade de neve. Para piorar um dos passageiros é assassinado e o detetive é chamado para solucionar o caso.

Conforme a história vai se desenrolando, o detetive se vê diante de um dilema moral: é correto fazer justiça com as próprias mãos? E o que devemos fazer quando a Justiça se mostra comprada?

Os Cinco Porquinhos (1942)


A tragédia da família Crale é revisitada dezesseis anos depois
por Hercule Poirot. (Divulgação/ITV)
Mais uma vez Poirot se mostra imbatível. Nem mesmo o tempo consegue ser um obstáculo para o belga. A história começa com o detetive sendo procurado pela jovem Carla Lemarchant, que deseja provar a inocência de sua mãe, levada à forca pelo assassinato do marido, dezesseis anos atrás.

Convicto de que ainda existe alguma coisa que merece sua atenção, Poirot resolve aceitar o caso, uma vez que sua intuição não falha. Para esclarecer de vez o caso, ele reúne as cinco testemunhas do crime e desenterra alguns segredos do passado.

A Extravagância do Morto (1956)


Poirot com Ariadne Oliver (Zoë Wanamaker).
(Divulgação/ITV)
Como já falei, Agatha Christie nunca suportou Poirot e sua mania de organização. Mesmo assim, ele é o personagem que mais aparece nos livros de Agatha, por uma razão muito simples: ele vendia os livros de Agatha.

Para ajudar a carregar essa cruz, Agatha criou a Ariadne Oliver, uma personagem que, acompanha o detetive em algumas de suas histórias. Ela já havia aparecido antes em Cartas na Mesa (1936), mas se estabelece somente a partir de 1952, no livro A Morte da Sra. McGinty.

Ariadne Oliver é uma escritora de histórias de detetives protagonizadas pelo detetive finlandês Sven Hjerson, que ela acha insuportável. Com Ariadne, Agatha abusa da metalinguagem e consegue criticar livremente não apenas ao Poirot, mas também a si mesma, uma vez que Ariadne é apresentada como uma personagem meio avoada.

Em A Extravagância do Morto, Ariadne convoca Poirot para uma brincadeira em que um crime seria encenado e Poirot teria que solucionar quem era o "assassino". Porém, durante o jogo, acontece um crime de verdade.

Cai o Pano (1975)


Em Cai o Pano, vemos um frágil Poirot em
uma cadeira de rodas, ao lado de Hastings
(Hugh Fraser). (Divulgação/ITV)
No último livro de Agatha Christie, Poirot aparece para solucionar seu último caso. Cai o Pano é uma grande despedida do detetive, que volta à mansão Styles, cenário de seu primeiro livro, O Misterioso Caso de Styles (1920), para tentar solucionar um crime que ainda vai acontecer, e dessa forma, impedir que ele seja cometido. Para ajudá-lo nessa missão, Poirot convoca o seu fiel escudeiro Capitão Hastings.

Só que agora, a idade parece que chegou para o detetive. Preso em uma cadeira de rodas, acompanhamos um frágil e incapacitado Poirot, totalmente debilitado física e mentalmente. Até mesmo o caso que Poirot busca solucionar parece ser um delírio de uma mente cansada. Ao fim do livro, lemos emocionados uma carta de despedida de Poirot a Hastings, em que o detetive relembra os velhos tempos.

Apesar de ter sido lançado apenas em 1975, Cai o Pano foi escrito no início dos anos 40, no auge da II Guerra Mundial. Acreditando que não poderia sobreviver à Guerra, Agatha tinha duas coisas em mente quando escreveu Cai o Pano: garantir uma fonte de renda para seus filhos e impedir que um outro escritor lucrasse com Poirot após sua morte.

Com o fim da guerra, Agatha colocou o livro em um cofre e lá ficou por mais ou menos trinta anos até que ela autorizasse sua publicação, quando percebeu que não poderia mais escrever. Por causa disso, o livro apresenta alguns anacronismos, ele nada menciona do que aconteceu depois da II Guerra e ainda fala sobre condenação por pena de morte, que foi proibida pela Inglaterra em 1969.

Vale lembrar que a edição brasileira ainda conta com um grande adicional: foi traduzido por Clarice Lispector.

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Essas são só algumas das histórias de Poirot. Vale a pena ir em busca das obras de Agatha Christie autora, que possui outros personagens marcantes, como a solteirona Miss Marple e o casal de espiões Tommy e Tuppence. Além dos livros de detetive, Agatha também escreveu outras seis histórias com o pseudônimo Mary Westmacott.

Uma última dica: se você quiser conhecer uma adaptação digna do detetive belga, procure a série Agatha Christie's Poirot, que durante 24 anos, adaptou para a TV todas as histórias do detetive, interpretado por David Suchet. Esse sim é um Poirot de respeito!

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