Exposição do CCBB reporta as novidades da arte africana

por Filipe Fernandes


A obra da zimbabuense Kudzanai Chiurai propõe uma releitura do processo de colonização.

"Ex Africa semper aliquid novi" (Da África sempre a novidades a reportar). A frase em latim, que pertence ao escritor romano Caio Plinio Segundo e foi escrita há cerca de 2.000 anos, inspirou a exposição Ex Africa em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Com mais de 80 obras de 18 artistas africanos e dois afrobrasileiros, a exposição retrata os dilemas e desafios do continente africanos, que curiosamente, são parecidos com os problemas vistos no Brasil e nos demais países da América Latina.

Dividida em quatro eixos, que dialogam entre si, Ex Africa aborda a escravidão, a expressões corporais, os desafios urbanos da África moderna e a música pop africana.

Ecos da História

Elementos que remetem à escravidão revelam a sua crueldade. (Filipe Fernandes/Rio+Cultura)

Nesse eixo, a exposição traz obras de artistas que fazem referências à escravidão ou propõe sua releitura.

O carioca Arjan Martins pinta os
navios que traziam escravos para as
Américas. (Filipe
Fernandes/Rio+Cultura)
Aqui se encontra a obra de Leonce Raphael Agbodjélou, de Benim, que fotografou descendentes de escravos na obra O Código Negro, em referência ao decreto francês que determinou que os escravos negros não teriam direitos legais ou políticos por 163 anos.

A série Gênesis de Kudzanai Chiurai, fotógrafa do Zimbábue, também retrata o passado, mas propõe uma releitura histórica para mostrar a relação entre o colonizador europeu e o africano colonizado, porém de uma forma em que nenhum dos dois lados seja retratado como subalterno.

As pinturas do carioca Arjan Martins também compõe a exposição. Sua obra retrata os navios que cruzavam o Oceano Atlântico trazendo os escravos africanos para as Américas.

Corpos e Retratos

Hair Styles, do nigeriano J. D. Ojeikere. (Filipe Fernandes/Rio+Cultura)

Omar Diop encarna
Dom Miguel
de Castro (Filipe
Fernandes/Rio+Cultura)
Nessa parte da exposição, conhecemos a obra Hair Styles, do fotógrafo nigeriano J. D. Okhai Ojeikere. Durante 40 anos, Ojeikere retratou os penteados africanos. Verdadeiras esculturas capilares, os penteados são uma marca do respeito que os africanos tem à ancestralidade.

Já o senegalês Omar Victor Diop, traz a série de autorretratos Projeto Diáspora, onde recria quadros de personagens históricos importantes na histórica da Africa, como o escravo Albert Baldin, o Dom Miguel de Castro ou o pintor Juan de Pareja. Em cada fotografia, Diop insere elementos esportivos, como apitos, luvas e bolas de futebol, denunciando o preconceito racial ainda presente no meio esportivo.

Há também a obra do brasiliense Dalton Paula, que aborda as expressões de fé afrobrasileiras na série Ex-votos, que mistura elementos do catolicismo com os de religiões de matriz africana.

O drama urbano


Os degradantes albergues retratados na obra de Tshabangu. (Filipe Fernandes/Rio+Cultura)

Pobreza, gentrificação e crescimento desordenado são os assuntos retratados nessa parte da exposição. Por meio de elementos da cultura pop, o cartunista de Lagos, Karo Akpokiere satiriza a poluição visual que a publicidade gera na cidade, enquanto as fotografias do sulafricano Andrew Tshabangu exibem os degradantes albergues em que os trabalhadores de Joanesburgo se hospedam para poder economizar dinheiro para mandar para suas famílias.

Explosões musicais


A sala Club Lagos explora os temas e a estética do pop nigeriano. (Filipe Fernandes/Rio+Cultura)

A última parte da exposição traz um olhar para a música de Lagos, cidade da Nigéria. Uma série de clipes traça os quatros passos para o sucesso: a começar pelo dinheiro, passando para o poder adquirido com a fama, levando à uma divinificação de si mesmo até finalmente chegar ao prêmio final, o sexo.

Aparentemente, nada tão diferente do caminho traçado pela música brasileira ou americana, porém, a estética confere personalidade ao cenário musical de Lagos, que vem se tornando cada vez mais mundialmente relevante.

Ex África
Centro Cultural Banco do Brasil - Rua Primeiro de Março, 66, Centro (3808-2020)
Quarta a segunda, das 9h às 21h.
Até 26 de março.
Entrada franca.
Classificação livre.

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